Tanto en la parroquia de San Juan Evangelista en el centro de la ciudad, como en la capilla San José de la Parroquia María Magdalena de Puente Alto, donde hay comunidades de misioneros y de hermanas Josefinas se celebró con devoción y alegría la fiesta de San José el 15 de marzo como lo indicaba la liturgia.
Desde aquí saludamos a todos los devotos de San José con este sermón de 1642 donde se habla hermosamente de nuestro Santo Patrono.
En portugués para que lo disfruten nuestros hermanos de Angola, Brasil, y Portugal.
P. Gabriel.
La hermana Mercedes se encuentra en estas latitudes desde hace un mes. Esta bien, contenta y trabajólica como siempre. Les manda muchos saludos a todas sus amistades y principalmente a los devotos de Mama Muxima y San José.
I. Estando Cristo Redentor nosso na cruz, olhou para S. João, o discípulo amado, e encarregou-lhe que tivesse cuidado de servir e acompanhar a sua Santíssima Mãe. Reparam alguns santos em não dar o Senhor este cargo a outro apóstolo, senão a S. João, porque ainda que em S. João concorriam todas as qualidades, em algumas era igualado, e em alguma excedido; e para mordomo da Rainha dos Anjos todos o excediam no atributo da ancianidade. Pois se era mais moço João, e havia outros amados, e mais parentes, porque não escolheu Cristo a outro discípulo, senão a S. João para este ofício? A razão foi; porque o ofício de acompanhar e servir à Senhora, era ofício de S. José, enquanto viveu: e para substituir em ausências de José, quem havia de ser, senão João? Não é menos que de S. Cipriano o pensamento: Ut non tam Joseph oneretur tanti ministerii praepositura, sed Joannes. Morrera José: vagara no mundo aquele grande lugar; e para substituir em sua morte, para suceder em sua ausência, ninguém havia no mundo que estivesse a caber, senão quem? João, o amado de Deus. João o amado de Deus substitui a José: Non tam Joseph, sed Joannes.
E isto quando? No dia de seu nascimento. Parece que não pode ser; porque nem o real, nem o nascimento podem competir a S. João aqui. Ora tudo foi. Quando Cristo deu a S. João o cuidado de servir à Senhora, as palavras que disse foram estas: Mulier, ecce Filius tuus: João, XIX, 26. Mulher, eis aí teu filho. Deinde dicit discipulo: Ecce Mater tua [João 19, 27]. João, eis aí tua Mãe. Mãe e Filho, de que maneira? Mãe tinha S. João, mas era Maria Salomé: Filho era, mas do Zebedeu. Pois se estes eram seus pais, como se chama João filho da Senhora, e a Senhora Mãe de João? É porque João tornou a nascer nesta hora, e nasceu só da Virgem por força das palavras de Cristo. Autores houve, e entre eles expressamente S. Pedro Damião, que disseram, que assim como as palavras, Hoc est Corpus meum [Isto é o meu Corpo], ditas uma vez por Cristo, tiveram força para converter o pão em corpo do mesmo Cristo; assim as palavras, Mulier, ecce Filius tuus, tiveram força para fazer a S. João, e o converterem de filho do Zebedeu em filho de Maria.
De maneira, que S. João teve dois nascimentos: um nascimento natural, com que nasceu filho do Zebedeu; outro nascimento sobrenatural, com que nasceu filho da Mãe de Deus. Pelo primeiro nascimento nasceu nas praias do Tiberíade; pelo segundo nascimento nasceu ao pé da cruz. Pelo primeiro nascimento nasceu de geração humilde; pelo segundo nascimento nasceu da mais ilustre e real prosápia que havia no mundo, filho de uma Senhora., herdeira de um rei morto à mão de seus inimigos: Jesus Nazarenus Rex Judaeorum [Jesus de Nazaré rei dos Judeus]. Assim nasceu S. João segunda vez, e assim foi necessário que nascesse, para suceder no lugar de S. José como sucedeu; porque, só se pode substituir dignamente a morte de José, com quê? Com o nascimento real de um João, o amado de Deus: Discipulum, quem diligebat: Mulier ecce Filius teus: Non tam Joseph, sed Joannes.
III
Temos visto o nascimento real de João o Amado, e o sítio do Planeta, em que nasce debaixo da terra, no mesmo, ou semelhante dia; e porque os dias, como diz David, também se falam e se entendem uns com os outros: Dies diei eructat verbum [“o dia entrega a mensagem a outro dia”; Salmo 18, 3.]; com razão perguntará o dia do nascimento de Sua Majestade ao dia, em que nasce, de S. José, que influências pode ou deve esperar de tão divino Planeta. g resposta não é como a dos matemáticos, duvidosa e incerta; mas tão certa e sem dúvida, como tudo o que dizem os evangelistas. Vamos ao nosso Evangelho, que é de S. Mateus, no capítulo primeiro, e ouçamos com admirável propriedade o que diz, como se falara deste dia, e do nosso caso: Cum esset desponsata Mater Jesu Maria Joseph. Estava, diz, a Mãe de Jesus, Maria, desposada com José. Onde se deve advertir, que a palavra desposada não significa promessa recíproca de bodas futuras, senão verdadeiro e actual matrimónio por contrato, e palavras de presente, como consta do mesmo Texto: Noli timere accipere Mariam conjugem tuam: [“não temas receber Maria, tua mulher”; Mateus 1, 20.] mas a cortesia do Evangelista não disse, casada, senão desposada, como termo mais decente e decoroso. O que suposto, era a Senhora já Mãe de Jesus, porque tinha concebido ao Verbo Eterno; mas antes de Mãe, primeiro desposada. E porquê? Como era, e havia de ser sempre Virgem, tanto importava ser primeiro desposada, como depois: porque razão logo ordenou a Providência Divina, que não concebesse ao Filho de Deus, senão depois de desposada: Cum esset desponsata Mater Jesu? A razão principal é porque convinha e era necessário que a conceição e parto da mesma Virgem estivesse encoberto: Ut virginues partus celaretur. Assim o dizem S. Jerónimo, S. Basílio, S. João Damasceno, Santo Ambrósio, S. Bernardo, e é comum dos santos padres. Constava da Sagrada Escritura pelo oráculo e testemunho do profeta Isaías, que o Messias, e Rei prometido para Redentor do mundo havia de nascer de uma Virgem: Ecce, Virgo concipiet et pariet Filium [“Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho”; Isaías 7, 14.]. E porque este Rei não só na Terra, senão no mesmo Inferno, havia de ter muitos émulos e inimigos, esta era a importância, e necessidade porque convinha, e tinha ordenado a Divina Providência, que estivesse encoberto a todos, como com efeito se encobriu no desposório, ou matrimónio da Virgem Santíssima com S. José, parecendo que não tinha mais mistério a conceição, e nascimento daquele Filho, que o comum e ordinário dos outros homens.
Que semelhança tem agora, ou que propriedade em S. José a providência de Deus neste mistério com o nascimento de Sua Majestade, que Deus guarde, no dia do mesmo Santo? Disse-o Ruperto com umas palavras, que se lhe pedíramos as fizesse de encomenda, não vieram mais nascidas ao intento: Ut esse Sponsus, custosque Beatae Virginis, ac nati ex ea Regis. Desposa-se José com Maria, e nomeadamente com Maria Mãe de Jesus, porque o fim destes desposórios foi ser José Esposo da Virgem, e guarda do Rei nascido: Custos nati Regis. Oh grande excelência! Oh grande glória! Oh dignidade superior a todos os santos a de José! Que os foros da mesma omnipotência nasçam debaixo de seu amparo, e que não tendo Cristo Anjo da Guarda, porque é Deus, tenha por Custódio um homem, que é S. José: Custus nati Regis! Grande glória de José, e grande graça também do nosso rei, e reino! Que o amasse Deus, e cuidasse do seu remédio com tão especial providência, que o patrocínio que deu em seu nascimento ao Rei que havia de restaurar o mundo, esse mesmo patrocínio desse em seu nascimento ao rei que havia de restaurar a Portugal! Um e outro nasceu debaixo da mesma protecção, um e outro nasceu debaixo da tutela e amparo de S. José: Joseph custos nati Regis.
Sendo pois estes dois reis nascidos ambos reis, ambos redentores, e ambos encobertos; o primeiro, como diz a profecia de Isaías: Vere tu es Deus absconditus, Deus Israel Salvator [“Tu és um Deus que se esconde, ó Deus de Israel, o Salvador”; Isaías 45, 15.]
[1]. O segundo prometido pela profecia, e tradição de Santo Isidoro a Espanha, não com outro nome, ou antonomásia, senão a do Encoberto; vejamos quão particularmente encobriu a um e outro, o que a um e outro deu Deus por guarda o cuidado e vigilância de S. José. A Cristo encobriu-o, como Esposo de Maria, nove meses e treze dias desde sua conceição até depois de seu nascimento, em que o descobriu a estrela no Oriente aos Magos, e os Magos em seguimento dela a toda Judeia. E como o encobriu? Spiritus Sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obumbravit tibi [O anjo lhe respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”; Lucas 1, 35.] A Virgem Senhora nossa tinha dois Esposos, um divino, outro humano. O Esposo divino era o Espírito Santo; o humano, S. José. Do primeiro Esposo era obra o Filho concebido, como disse o Anjo à mesma Virgem: Spiritus Sanctus superveniet in te: acrescentando: Et virtus Altissimi obumbravit tibi: que a virtude do Altíssimo lhe faria sombra. E que sombra foi esta, ou quem foi esta sombra? Foi sem dúvida o segundo Esposo, a cuja sombra esteve a Virgem depois de desposada, e com a sombra e nome de Pai, encobriu o que verdadeiramente não era seu Filho. Assim ficou o Rei, e Redentor, que havia de ser do mundo, encoberto desde sua Encarnação nove meses até seu Nascimento, e treze dias, até que a estrela e os Magos, e Deus por eles o descobriu ao mundo: Ubi est, qui natus est Rex Judaeorum? [“Onde está o rei dos judeus recém-nascido?”; Mateus 2, 2.]
Mas se S. José guardou encoberto a Cristo nove meses e treze dias; que comparação tem este tempo, que não chega a um ano, com mais de trinta e seis anos inteiros em que teve encoberto ao rei encoberto de Portugal, desde o dia de seu nascimento até o felicíssimo de sua restituição? Vejo que me respondem, que S. José não só encobriu a Cristo naquele primeiro ano não acabado, mas em outros, cujo número certo se não sabe. Sabendo pelo Anjo que Herodes entre os Inocentes de Belém, queria tirar a vida a Cristo, fugiu de Judeia para o Egipto, e depois da morte do mesmo Herodes, sabendo também por aviso do Céu, que reinava em Judeia Arque seu filho, retirou-se para Galileia. De sorte que para encobrir o primeiro Rei nascido, tomou por meio tirá-lo diante dos olhos dois reis seus inimigos, e escondê-lo em terras estranhas. Porém para encobrir o segundo rei, não só no seu nascimento, nem na sua infância, puerícia, ou adolescência, senão na idade de varão perfeito em tantos anos, a traça com que o encobriu a outros dois reis, que não menos lhe podiam tirar a vida e a coroa, qual seria? Verdadeiramente milagrosa, e digna da Omnipotência Divina. Dentro na mesma Espanha, dentro no mesmo Portugal, e diante dos olhos dos mesmos reis, escondeu e encobriu de maneira ao encoberto, que vendo-o, o não viam, nem viram. É, certo que assim foi, mas duvidoso, como podia ser.
No dia da Ressurreição ajuntou-se Cristo aos dois discípulos que iam para Emaús, os quais, em todo aquele caminho, O viam e ouviam, sem O conhecerem. Porventura transfigurou-se Cristo, ou mudou as feições do rosto? Por nenhum modo. Pois se eram seus discípulos, costumados a vê-l'O todos os dias, e agora O estavam vendo, e no seu rosto não havia mudança, como O não conheciam? Responde o Evangelista: Oculi eorum tenebantur, ne eum agnoscerent [“seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo”; Lucas 24, 16.] A palavra tenebantur, melhor se pode entender, do que declarar na nossa língua: Tenebantur, estavam detidos: Tenebantur, estavam presos: Tenebantur, estavam suspensos: Tenebantur, estavam em si, e fora de si, como extáticos os olhos que O viam, e não conheciam. Fazendo este milagre nos Discípulos a omnipotência de Cristo; e nos reis, que tanto podiam temer, e acautelar-se do que hoje é nosso, a mão invisível de S. José. Desde o princípio em que se fizeram senhores de Portugal aqueles reis estranhos; Filipe II tinha diante dos olhos a senhora D. Catarina; Filipe III ao duque D. Teodósio; Filipe IV a Sua Majestade, que finalmente lhe tirou da cabeça a coroa; e vendo-os, não conheciam o que neles deviam recear e temer, cegando-os S. José com a mesma luz de seus olhos; e cobrindo o seu e o nosso encoberto com o descobrir.
Assim desempenhou o grande santo a obrigação que tinha de encobrir, e provar o nome de encoberto no novo rei, nascido no seu dia: mas ainda lhe falta, ou nos falta uma maior consideração e vigilância deste seu empenho. O ódio, a emulação, a cautela, o receio de perder o ganhado em Portugal, que tinham os reis estranhos, a grandeza do poder, e a doçura do possuir, podia lisonjear e adormecer todo este cuidado; mas da nossa parte, e em nós, os Portugueses, além da dor do perdido, estava com os olhos abertos ao remédio o amor, o desejo, e a necessidade. O amor ainda que é cego para ver, é lince para adivinhar: o desejo é um afecto sempre ardente e inquieto, que não sabe sossegar um momento: sobretudo a necessidade da redenção, da liberdade, e de rei natural, era a que mais apertava os cordéis a este tormento, e tinha com a soga na garganta todos estes afectos. E como podia ser, que sendo eles tão vigilantes, e tendo sempre o direito da coroa, e a pessoa do rei a quem pertencia, diante dos olhos, de tal sorte a encobrisse S. José, que a ninguém viesse ao pensamento ser ele o que o havia de recuperar"? Mas em encobrir o nosso encoberto neste grande perigo de o declararem as evidências, ou conjecturas de algum destes afectos, mostrou o Santo, quão alta e delicadamente observou as obrigações do ofício de o guardar: Custos nati Regis; equivocando milagrosamente um rei com outro rei, e encobrindo um vivo com outro morto. Perdeu-se, ou morreu na batalha de África el-rei D. Sebastião, e puderam tanto as saudades de um rei, que se tinha perdido a si e a nós, que sem se divertirem aonde deviam, deram em esperar dele, e por sua vida e vinda, a nossa redenção; e este foi o altíssimo conselho, com que S. José, debaixo das cinzas do rei passado e morto, conservou e teve encoberto o rei futuro e vivo. Não vemos conservar-se vivo o fogo debaixo das cinzas que o encobrem? Pois assim conservou e encobriu S. José a vida de el-rei, que Deus guarde, debaixo das cinzas de el-rei D. Sebastião defunto. É o que diz expressamente Isaías, no capítulo 61. Promete Deus ali de alegrar os tristes, de consolar os desconsolados, de libertar os cativos, e conclui, que pelas cinzas lhes dará a coroa: Ut mederer contritis corde: et praedicarem captivis indulgentiam: ut consolarer omnes lugentes [Isaías 61, 1, 2 e 3.] e finalmente: Et darem eis coronam pro cinere. Assim estava Portugal triste, assim estava desconsolado, assim estava cativo, e assim lhe prometia S. José a coroa perdida debaixo das cinzas do rei morto reputado por vivo; e assim conservava vivo e encoberto aquele que verdadeiramente havia de restituir aos tristes, desconsolados e cativos a coroa perdida. De maneira que encoberta a verdade debaixo do engano, a esperança, debaixo da desesperação, a vida debaixo da morte, e a coroa debaixo das cinzas, aos príncipes estranhos, que tudo isto tinham por riso, não lhes dava cuidado o remédio; e os vassalos, amigos e naturais, que o tinham, pouco menos, quase por fé, com milagrosa providência, enganada a sua dor, o seu amor, o seu desejo, e a sua necessidade, se consolavam e animavam da falsa e equivocada esperança até que a verdadeira, debaixo dela encoberta, ao tempo destinado pelo Céu, lhe trouxe a felicidade que hoje logramos.
IV
Certo que ponderar cabalmente esta felicidade, será causa de não faltar nunca Portugal ao eterno agradecimento a S. José. Que uma vida (não sejamos ingratos, por não saber o que devemos a Deus), que uma vida, em que estavam fundadas as consequências, que hoje se logram, apesar da emulação de dois reis, debaixo de sua mesma jurisdição se conservasse! Que nasça a décima sexta geração de Portugal tão esperada, e que sendo décima sexta por três dias, nem o amor dos naturais, nem os ciúmes dos estranhos em trinta e sete anos o descobrisse! Vivo apesar de tantas advertências políticas, encoberto, apesar de tantas evidências manifestas! Grandes milagres da Providência Divina; e este segundo, a meu ver, ainda maior. E se não, pergunto: Qual foi a razão, porque ordenou Deus que o libertador que havia de ser de Portugal, se conhecesse tantos anos antes no mundo, não pelo nome de libertador, senão pelo nome de encoberto? A razão foi; porque maior milagre da Providência era conservá-lo encoberto, que fazê-lo libertador. Fazê-lo libertador, foi deliberarem-se os homens a uma coisa muito útil; conservá-lo encoberto, foi cegarem-se os homens a uma coisa muito manifesta: e maior milagre é encobrir evidências ao entendimento, que persuadir conveniências à vontade. O que todos ponderam, o que todos admiram, o de que todos fazem maior caso é, que se unissem, e concordassem as vontades de todo um reino, para fazer o que fizeram. Muito foi; mas bem considerado, não foi muito; porque, que muito que as vontades dos homens se persuadissem a uma coisa tão útil, e tão honrosa, como ter reino, ter rei, ter liberdade, viver sem cativeiro e sem opressão? Porém que o autor felicíssimo de todo este bem nascesse e vivesse entre nós tão retratado pelos oráculos divinos, e ainda nomeado pelo próprio nome, e o tivesse Deus encoberto, sem que o amor, nem a emulação, que são os dois afectos mais linces, o descobrissem! Que o vissem os olhos, e que guardasse segredo o entendimento! Que suspirassem os desejos, e que não bastassem as maiores advertências! Dissimulado a evidências, e encoberto a olhos vistos! Este é o maior milagre, esta a maior maravilha, mas agora exercitada, e muitos séculos antes já ensaiada: por quem? Pelo autor da mesma protecção, S. José.
Conta o Texto sagrado no quarto Livro dos Reis, capítulo onze, que em uma ocasião quiseram tirar a vida tiranicamente os herdeiros do sangue real de Israel ao menino Joás; porém que Josabá o livrou do perigo, e o criou escondidamente: Abscondit eum, ut non interficeretur até que passados alguns anos, os nobres do povo se uniram, e todos com as armas nas mãos entraram no paço real, e impedindo as guardas em um sábado, aclamaram por rei a Joás, e o meteram de posse do reino, que lhe pertencia, lançando do paço a Atalia, uma senhora que então governava. Desta maneira refere o Texto este caso, e bem se vê, que é tão próprio do que sucedeu em Portugal, que se ao nome de Joás se mudara o s, em m, se pudera trasladar este capítulo, e escrever-se em nossas crónicas. Bem está: mas quem fez isto? A quem se deve esta façanha! Quem há-de levar a glória desta maravilha? Quem? S. José. Diz Isidoro Isolano que Josabá, a cuja indústria deve sua vida e restituição Joás, foi figura de S. José, Esposo da Virgem Joseph profecto in Josaba praefiguratus est, quae Joas Infantem clam nutrivit, et aluit, ao regem Israel tandem constituit. Hei-de construir as palavras ao pé da letra, para maior glória de S. José, e maior evidência do nosso caso. Joseph profecto in Josaba praefiguratas est. Verdadeiramente S. José foi figurado em Josabá: Quae Joas infantem clam nutrivit, et aluit: que guardou ao infante Joás vivo e encoberto: Ac regem Israel tandem constituit: e finalmente o fez rei de Israel, metendo-o de posse do reino, que lhe tocava. E não é isto mesmo, o que fez S. José com o rei e reino de Portugal? Nem o caso pode ser mais próprio; nem eu quero dizer mais nesta matéria.
Estas são as obrigações em que S. José tem empenhado a Vossa Majestade, Senhor; e as consequências delas são, que assim como S. José não só foi Salvador do Salvador, senão também do mundo; assim não foi só Salvador do nosso Libertador, senão também do Reino libertado. Espero em Deus que o hei-de provar literalmente. Benedictio illius, qui apparuit in rubo, veniat super caput Joseph [Deuteronómio 33, 16.] A bênção daquele que apareceu na sarça, desça sobre José. Esta bênção foi lançada ao patriarca José, e diz o Pelusiota e outros, que se cumpriu em S. José, Esposo da Virgem. E qual foi a bênção daquele, que apareceu na, sarça a Moisés? Ele mesmo o disse: Vidi afflictionem populi mei, et descendi ut liberem eum [“eu vi, eu vi a miséria do meu povo, por isso desci a fim de libertá-lo” Êxodo 3, 7 e 8.] Vi a aflição do meu povo debaixo do poder de um rei estranho, e desci do Céu a libertá-lo. Pois se a bênção do que apareceu a Moisés na sarça, é ser libertador do povo oprimido do poder de um rei estranho, e esta bênção se cumpriu em José, Esposo da Virgem; digam-me agora, os historiadores, quando se cumpriu esta bênção, senão na restauração de Portugal. Viu o Santo as aflições deste povo verdadeiramente seu; e desceu do Céu a libertá-lo, guardando com particular providência a vida do nosso felicíssimo libertador, como fez à de Cristo, segundo a protecção que tomou em um e outro nascimento: Custos nati Regis, que foi o fim com que se desposou com a Virgem: Cum esset desponsata Mater Jesu Maria Joseph.
V
Tenho acabado o sermão; de todo ele quisera tirar somente uma coisa, queira o Senhor que seja tão bem recebida nos ânimos de todos, como é a todos necessária e importantíssima. O que concluo de todo este discurso é, que deve o reino de Portugal tomar solenemente a S. José por particular advogado, e protector de sua conservação e aumentos. A razão que tenho para isto, é a mais eficaz, que pode ser: querer Deus que seja assim, nem nós devemos querer outra coisa. Sonhou el-rei Faraó que haviam de vir a seu reino aqueles catorze anos de vária fortuna, e dizendo-lhe que importava prevenir-se de algum varão de grande prudência, que superintendesse. à conservação e remédio do reino, Placuit Pharaoni consilium [O conselho agradou ao Faraó» Génesis 41, 37], contentou o conselho ao rei, e voltando-se para José, disse: Nunquid sapientiorem, et consimilem tui invenire potero ? [“não há ninguém tão inteligente e sábio como tu”; Génesis 41, 39.] Porventura, José, posso eu achar algum que seja mais sábio, mais prudente, e em cujas mãos e conselho esteja mais segura minha monarquia? O ceptro e a coroa ponho debaixo do vosso patrocínio, mandai, ordenai, despendei, não como vassalo, mas como pai. O mesmo digo no nosso caso.
Isidoro de Isolano já acima alegado, autor, que há muitos anos que escreveu, admirando-se muito de que em seu tempo não fosse celebrado na Igreja o glorioso S. José, conclui assim: Suscitabit Dominus sanctum Joseph ad honorem nominis sui, caput, et patronum peculiarem imperii militantis Ecclesiae. Esteja embora esquecido por agora S. José, e não seja sua memória tão celebrada como merece; que Deus levantará este grande santo a seu tempo, para que seja particular padroeiro do seu império na Igreja militante: Patronum peculiarem imperii militantis Ecclesiae. Duas coisas havemos de saber para entendimento destas palavras: uma, quando se começou a celebrar S. José; outra, qual é no mundo o império de Cristo. O tempo em que se começou a celebrar S. José, foi pontualmente depois da perda de el-rei D. Sebastião, de triste memória, e antes da felicíssima restituição à coroa de el-rei D. João nosso senhor; para que posto entre a ruína do Reino, e o remédio: compadecido da ruína, a remediasse. E o império de Cristo qual é? O mesmo Senhor foi servido de no-lo explicar, quando disse a nosso fundador, o senhor rei D. Afonso Henriques: Volo in te, et in semine tuo imperium mihi stabilire.
Quero em vós, e em vossa descendência estabelecer o meu império. Pois se Deus levanta no mundo a S. José, quando quer levantar a Sua Majestade por rei: se o império de Cristo na Igreja militante somos nós; e S. José há-de ser particular padroeiro deste império: que resta, senão que efectivamente se conclua de nossa parte, que é o constituir e reconhecer com pública solenidade a S. José por protector particular do reino de Portugal, e sua conservação; dizendo a este José, o que os Egípcios disseram ao outro: Salus nostra in manu tua est, respiciat nos tantum Dominus noster, et laeti serviemus regi [“Tu nos salvaste a vida! Achemos graça aos olhos de meu senhor e seremos os servos do Faraó.”; Génesis 47, 25]?